Eu busquei realmente conhecer um pouco mais sobre a AVSI. Estive em Roraima, vi seu trabalho, estamos implementando um projeto em conjunto aqui em Brasília, do centro de acolhida e temos muitas relações e contatos enriquecedores, para mim.
Apenas vou repetir que a AVSI tem por finalidade o desenvolvimento de programas no âmbito social, econômico, ambiental, energético, cultural, educativo e formativo, visando a promoção da dignidade da pessoa humana em todas as suas expressões. É claro para mim que o desenvolvimento integral da pessoa humana é a marca, é mais do que isso, é o que a AVSI elegeu para ser. Há um elo comum entre nós que é a dignidade do ser humano, ali todos e todas nos encontramos.
Se há algo que eu particularmente admiro e do qual a AVSI pode e deve, ao meu ver, sentisse orgulhosa é ver com os olhos fitos no desenvolvimento integral do ser humano. A AVSI se coloca em emergências humanitárias, e no caso especifico do Brasil, emergências humanitárias onde estão migrantes refugiados. É neste espaço, em um dos cenários de sofrimento do mundo atual que os migrantes e refugiados aparecem como sujeitos emblemáticos de uma exclusão, como fala Papa Francisco, porque além dos incômodos e sofrimentos inerentes da sua condição de estarem em processo migratório indesejado, forçados por crises as quais eles não deram causa, é ali que essas pessoas, aos milhares acabam sendo também alvo de juízes negativos que os consideram causas de males sociais.
A AVSI, ao eleger estar em emergências humanitárias, se faz presente justo e junto ao ser humano no momento em que ele mais precisa encontrar quem o faça sentir que há esperança, que essa condição que ele está vivendo não é o fim, mas sim o começo de um processo que o ajudará a chegar no patamar de uma vida com dignidade. Porque a AVSI não termina sua missão ali na emergência, mas faz dela o primeiro passo para revelar e realizar sua meta que é a promoção dessas pessoas rumo a sua autonomia.
É ali que a AVSI vai para estender-lhe a mão, abrir-lhe o coração, levar-lhe o conforto humano e humanitário, para que a pessoa recupere as forças e acredite que há um futuro, recompondo sua autoestima, levantando os olhos para ver o horizonte que não é uma utopia inalcançável, mas uma possibilidade que estimula a retornar ao caminho. O desenvolvimento, a promoção humana, seria uma utopia inalcançável para milhares de pessoas, por exemplo no movimento migratório dos venezuelanos, se não houvesse a intervenção, a presença, a ação samaritana de curar feridas físicas e emocionais, da proteção no momento em que as forças dos migrantes e refugiados estão profundamente afetadas e parece ter se esvaído.
Erguer as pessoas das cinzas que a chama da fome e da miséria provocaram é um ato de humanidade tanto quanto socorrer os que fogem da guerra e outras emergências humanitárias. É reavivar a esperança, é mostrar-lhes que o desenvolvimento humano não é utopia e que essas pessoas têm ao seu lado bons samaritanos que tem um plano para elas.
A AVSI não salva o mundo sozinha, tem consciência clara disso, mas soma forças, articula, busca espaços e oportunidades pelo Brasil afora e o faz justamente para poder dizer aos migrantes e refugiados de hoje, que a jornada não se encerra no abrigo. Porque nossa meta não é parcial, não é acomodarmos na assistência emergencial, embora muito necessária. Nossa meta não se concluí em alimentar o corpo sem olhar para a alma, para o coração, para o espírito, para os sonhos que os migrantes e refugiados nesse momento estão nutrindo.
A AVSI teve a lucidez de ampliar seu olhar, sua presença, sua ação, vinculando a necessidade de atuar nas emergências humanitárias para ajudar o ser humano a recuperar-se, a recolocar-se como um sujeito de uma trajetória de reconstrução para sua autonomia. É isso que a AVSI faz, ela está lá para dar força, mas para apontar e ajuda-los para que percebam que eles também têm força, capacidade e carinho, acompanhamento para recomeçar seu caminho. Para serem protagonistas no caminho do desenvolvimento humano, como expressa a finalidade estatutária da AVSI, mas não só por causa do estatuto e sim, como é o próprio apelo do Cristo que salva, alcançar um desenvolvimento humano, como escreveu Paulo VI, ser chamado o novo nome da paz. Para mim, AVSI constrói, traça, vive e ajuda os migrantes e refugiados a chegarem a esse ponto e a buscar sua autonomia. Enfim, colocar aquilo que AVSI coloca desde o seu princípio um nível de desenvolvimento que mereça o nome de paz.