AVSI COMUNICA /
Valdeci Ferreira
Diretor Geral da FBAC



 

As APACs são instituições jurídicas sem finalidade lucrativa e que são prisões administradas sem polícia, sempre com objetivo de recuperar o preso, proteger a sociedade, socorrer as vítimas e promover a justiça restaurativa. Hoje temos uma média de 4.000 homens e mulheres cumprindo penas em 54 APACs, que já funcionam administrando centros de integração social e os nossos recuperandos que ficam com as chaves das prisões.

 

As APACS nasceram em 1972 e estamos caminhando para 50 anos de experiência profundamente revolucionária em que os números de reincidência são reduzidos de 80-85% para índices abaixo de 15% e assim conseguimos reduzir o custo para 1/3 daquilo que se gasta em um sistema prisional comum, entre vários outros resultados positivos.

 

Eu diria que ao longo desses 50 anos muitas coisas aconteceram nas APACs, nós vivemos momentos muito difíceis, mas nada foi tão difícil do que quando eu tive que assinar uma portaria suspendendo as visitas dos familiares dos recuperandos e recuperandas. Não foi fácil porque todo nosso trabalho se assenta no encontro, com familiares, filhos, esposas, mães, avós, irmãos. No encontro com os voluntários, pessoas que chegam de modo gratuito levando um amor incondicional para aqueles recuperandos. O encontro com os professores da rede escolar. Então, suspender a entrada de todos os visitantes nas APACs, restringindo a entrada apenas para funcionários, foi realmente uma decisão muito difícil. Acho que a decisão mais difícil que eu já tomei na minha vida.

 

Eu diria que a pandemia trouxe à tona uma frase que para mim ela é muito própria, de Ghandi, quando ele dizia “o velho mundo agoniza, o novo tarda a nascer e nesta noite surge os monstros”. Então, temos de fato, um velho mundo que está agonizando, que está morrendo, mas que ainda não morreu. Temos um novo mundo que está nascendo, está gestando, mas que ainda não está pronto. E no meio de tudo isso, nas noites, surgem os monstros e a gente verificou nas APACs surgirem vários. O monstro do medo, da depressão, da angústia, da ansiedade, do nervosismo, porque as pessoas acabaram ficando com um profundo medo de morrer e também que seus entes queridos morressem e eles não pudessem participar dessa despedida.

 

Foi necessário nos reinventar. Tivemos que nos reinventar, pois não tínhamos mais os voluntários, as atividades socializadoras, os momentos de espiritualidade, a escola, o artesanato, as oficinas, então foi preciso reinventar e aqui a presença dos parceiros foi fundamental.

 

Nesse caso muito específico queria agradecer do mais fundo do meu coração, em nome de todas as APACs, de todos os voluntários, funcionários, e em especial dos recuperandos e recuperandas, pela ajuda da Fundação AVSI, e nós conseguimos, juntamente com outros parceiros, a começar uma produção de máscaras. Começamos de modo muito improvisado a produção dentro das APACs e depois a AVSI nos ajudou com insumos para a produção de máscaras já em larga escala, nos permitindo a compra de máquinas de costura, que inclusive que vão ficar como um legado para as APACs após essa pandemia.

 

Nos permitiu a entrega de produtos de higiene para atender as prescrições sanitárias, permitiu a compra de equipamentos, de aparelhos para aferir a temperatura e a realizar testes da COVID naquelas unidades que foram mais afetadas. Foram várias as ações que nos permitiu no mês de setembro a produção e doação de 1 milhão de máscaras, para asilos, secretarias de saúde, presos e funcionários do sistema comum e famílias dos recuperandos. Ao que tudo indica, até o final de 2020, iremos atingir a meta de 2 milhões de máscaras produzidas dentro das APACs. Então, mais uma vez queria de modo muito especial, agradecer a todos da AVSI.


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