AVSI COMUNICA /
Iará Simis
Gerente de projetos
AVSI Brasil


Sempre nutri um grande interesse em conhecer como funcionava uma Apac. Um presídio sem armas, sem impor o respeito dos presos pelo medo, sem maus tratos e subjugação. Realmente não é algo comum, principalmente no sistema carcerário brasileiro. Para mim que tive uma curta experiência com unidades de medidas socioeducativas, a ideia de entrar em um presídio não me remetia a memórias muito agradáveis. Porém, o interesse em conhecer esse sistema e verificar como a metodologia era aplicada, me despertava um grande desejo em conhecer de perto esse método.

 

A primeira vez que ouvi falar da Apac foi na AVSI e a primeira pergunta que veio na minha mente foi: se o sistema funciona, por que a metodologia não é implementada em outros lugares?  Achar uma resposta a esse questionamento só aguçou ainda mais o meu interesse.

 

Ao chegar, fomos logo saudados por um recuperando, esse é termo utilizado para os presos que estão cumprindo pena na Apac. Logo após, somos recebidos pelo recuperando Jefferson, um jovem muito simpático de 30 anos que foi o nosso guia na visita aos setores semi-aberto e aberto. Jefferson nos apresenta as diferentes áreas, desde o refeitório, os dormitórios, a bela horta que também é cuidada com muito carinho por um recuperando, a marcenaria e a padaria. Ele nos explica sobre a rotina diária dos recuperandos e o sistema de pontuação utilizado para punir aqueles que não cumprem suas tarefas ou infringem alguma regra previamente estabelecida. O mais interessante é que são os próprios recuperandos que “vigiam” uns aos outros e há também o CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade - que é formado apenas por recuperandos. A disciplina é assim mantida por todos, mas também o respeito e a segurança.

 

Depois fomos visitar a parte do regime fechado e somos recebidos por Douglas, o presidente da CSS do regime fechado da unidade de Nova Lima (MG). Onde se espera encontrar um clima mais pesado e tenso, na verdade, se observa a oportunidade do recomeço, com salas de aula, uma pequena biblioteca, um consultório dentário, além dos dormitórios e do pátio. Houve o momento da oração, a espiritualidade também integra a metodologia, e tivemos a oportunidade de presenciar a ocasião de quando um recuperando recebe a notícia da sua transferência para o semi-aberto. 

 

Na Apac, as regras são claras e as consequências do seu descumprimento também. Não há tratamento diferenciado e nem favoritismo, todos são tratados iguais, inclusive com o mesmo respeito e dignidade do cidadão que vive do lado de fora.  Os recuperandos cumprem sua pena, mas com verdadeiras chances de transformar o seu futuro.

 

A visita a Apac permite que você enxergue os encarcerados além dos seus crimes, que disciplina não precisa ser assegurada com violência e que respeito, dignidade, amor e valorização humana são as armas mais eficientes para gerar transformações. As expressões de liberdade são percebidas através dos sorrisos, dos abraços, da autonomia e das oportunidades de aprendizagem. Com certeza essa foi uma experiência única, que possibilita entender de forma mais plena uma das frases sempre mencionadas na Apac: “todo homem é maior que seu erro”.

 

 

Iará Simis é colaboradora da AVSI Brasil em Recife.

 

A AVSI Brasil contribui com o fortalecimento das unidades prisionais APAC desde 2011, por meio do projeto Além dos Muros.


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